Como a automação tributária está transformando a relação entre o Fisco e as grandes empresas, exigindo novas estratégias corporativas
Não é segredo que a Receita Federal do Brasil – RFB vem implementando uma transformação digital sem precedentes na administração tributária nacional, estabelecendo um dos mais avançados ecossistemas de fiscalização automatizada do mundo. Este movimento, intensificado nos últimos anos, revoluciona a forma como o Fisco monitora e audita as grandes corporações.
Para entender como as empresas podem se preparar melhor para esse ambiente de fiscalização automatizada, conversamos com Fernanda Souza, diretora comercial da Easy-Way do Brasil, uma das maiores desenvolvedoras de sistemas tributários, fiscais e contábeis do país.
Como a automatização está evoluindo dentro da RFB?
Este processo começou com a criação do SPED, em 2007. Desde então, a evolução tem sido exponencial. A RFB utiliza tecnologias de big data e inteligência artificial para cruzar informações de múltiplas fontes, criando um ambiente de “fiscalização invisível” onde inconsistências são detectadas automaticamente sem necessidade de visitas presenciais às empresas. O impacto dessa mudança é profundo. O tempo de resposta para adequações fiscais diminuiu drasticamente. O que antes permitia meses para ajustes, hoje exige reação imediata, pois inconsistências são identificadas em questão de dias ou até horas após a transmissão das obrigações acessórias.
Como as empresas estão se adequando a esse novo cenário?
O que temos visto é uma automação cada vez maior também por parte das empresas em sua gestão tributária, criando fluxos de trabalho cada vez mais eficientes e precisos. Isso impacta na redução de erros humanos, eliminação de inconsistências em cálculos complexos e no preenchimento de obrigações acessórias, resultando na redução significativa do risco de autuações fiscais. A eficiência operacional é outro benefício expressivo. Tarefas que antes consumiam semanas do departamento fiscal – como apuração de impostos, validação de notas fiscais e geração de guias – agora são executadas em questão de horas ou minutos.
E como isso impacta nos profissionais desse segmento?
O impacto principal é a valorização cada vez maior desses profissionais, com a realocação estratégica de talentos. Com a automação das tarefas rotineiras, os profissionais da área fiscal podem dedicar-se a atividades de maior valor agregado, como planejamento tributário, análise de cenários fiscais e identificação de oportunidades de economia tributária legítima.
Diante desse cenário desafiador, como as empresas podem se precaver?
O investimento em softwares especializados estabelece uma barreira protetiva contra os principais riscos fiscais que ameaçam a saúde financeira das grandes corporações. Estas ferramentas atuam como verdadeiros escudos, oferecendo múltiplas camadas de segurança tributária. A consistência entre diferentes declarações fiscais representa outro benefício crucial. Softwares integrados garantem que informações reportadas em diferentes obrigações (como SPED Fiscal, EFD-Contribuições, ECF, entre outras) mantenham coerência entre si, eliminando discrepâncias que podem desencadear fiscalizações. Esta harmonização de dados elimina um dos maiores gatilhos para autuações fiscais.
O investimento em automação pode ter impacto no resultado da empresa?
Sem dúvida alguma. A validação de documentos fiscais em tempo real deve ser entendida como um diferencial competitivo. Sistemas modernos verificam automaticamente a validade de notas fiscais eletrônicas, conferem cálculos tributários e identificam inconsistências antes que entrem no fluxo operacional da empresa. Esta detecção precoce evita a propagação de erros que poderiam resultar em passivos tributários significativos e ter um forte impacto negativo nos resultados. Por outro lado, um sistema de gestão tributária mais eficiente significa custos menores que podem tanto impactar na margem de lucro quanto permitir um avanço sobre o market share de concorrentes menos tecnológicos.